Comerciantes dividem aluguel para driblar o alto custo dos imóveis

A escalada do preço do aluguel em Belo Horizonte leva os comerciantes a buscar novos negócios dentro do imóvel para arcar com o custo alto da locação. Muitos optaram por dividir o espaço que alugam em vários segmentos. Não é para menos. O aluguel comercial em Belo Horizonte subiu 12,56% de janeiro a setembro, quase quatro vezes acima da inflação do período, que foi de 3,24%, segundo dados da Fundação Ipead, em parceria com a Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG).
Alfredo Batista tem há dois anos uma loja de roupas femininas no Funcionários, a Stoke. O negócio ocupava uma área de 80 metros quadrados. Há dois meses, ele decidiu dividir a loja ao meio e montar uma cafeteria na outra metade, que está para ser inaugurada. “A nossa ideia é diminuir o custo, pois estava difícil pagar o aluguel só com a loja de roupa”, afirma Batista. Segundo ele, a loja não perdeu vendas com a área mais restrita. “Ficou até mais aconchegante”, diz. Ele também conseguiu aproveitar mais o espaço. Antes, a loja tinha quatro provadores. Com a metade da área, agora tem três.
A empresária Marina Pimenta também usou da criatividade para aproveitar melhor o espaço do seu negócio. Há pouco mais de um ano, ela montou uma floricultura em uma casa na Savassi, com cerca de 200 metros quadrados, a Contemporânea Butique de Flores. “Mas depois vi que o espaço não estava bem usado”, diz. Decidiu então buscar um sócio para o negócio na área de gastronomia, o chef de cozinha Samuel Schettino. Hoje, a casa funciona como floricultura, café e bar. “Um negócio ajuda o outro. Nosso movimento triplicou”, afirma Marina. Assim como o movimento, o número de funcionários também deu um salto. Passou de cinco para 15.
A artista plástica Selma Weissmann está do outro lado. Ela é locadora de imóveis comerciais na Savassi. Selma tem um ateliê que funciona na sua casa e aluga as duas lojas vizinhas (uma de molduras e outra de skates). A área da loja de skate foi criada recentemente, depois que Selma vendeu um dos seus carros. A metade da garagem da casa foi transformada em loja. “É bem estreita, mas combina com o estilo do negócio”, diz. Selma afirma que a procura por imóveis na região é grande. “É impressionante, acho que, se tivesse imóvel sobrando, não teria dificuldade para alugar”, diz.
A oferta de imóveis comerciais nos primeiros nove meses deste ano cresceu 14,67%, segundo levantamento do Ipead. Apesar do aumento de unidades disponíveis para locação, a demanda ainda é mais alta, segundo Ariano Cavalcanti de Paula, presidente do CMI-MG e do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG). “O aluguel dos imóveis subiu em função da pequena oferta, que não consegue acompanhar a demanda. A crise financeira fez piorar esse quadro, pois chegou no momento em que as unidades iam ser lançadas. Os investimentos tiveram que ser adiados”, afirma Paula. Segundo ele, os lançamentos devem ser retomados, mas em processo mais demorado. “A retomada costuma ser mais lenta do que a interrupção”, diz.
A Região Sul, segundo Ariano, é a mais escassa em oferta de imóveis comerciais. “Temos visto pouca oferta de andares corridos e lojas, o que leva muitas empresas a buscarem casas para seus negócios”, diz. Assim como o imóvel comercial, o preço do residencial segue em alta. O aumento foi de 10,36% de janeiro a setembro deste ano, segundo o levantamento do Ipead. A oferta no período deu um salto de 21,97%. “A oferta vem crescendo muito, o que deve trazer mais equilíbrio ao mercado. Acredito que isso já deve acontecer no próximo ano”, avalia Ariano de Paula. (portalUai)