São Paulo, 30 de setembro de 2005 Portal uol www.uol.com.br
No dia em que deixou a carceragem da Polícia Federal, Edilson Pereira de Carvalho tentou emplacar uma nova fonte de renda. De sua casa em Jacareí (75 km a leste de São Paulo) e por intermédio de um amigo, Daniel de Oliveira, ele colocou em leilão sua primeira entrevista exclusiva.
O valor do lance inicial, R$ 15 mil, ou uma vez e meia o que ele confessou cobrar para arranjar resultados de partidas de futebol.
Motorista do Golf prateado placas CQE-9936, de Jacareí, que levou o juiz e sua família de São Paulo para a cidade do Vale do Paraíba, na madrugada, Oliveira atuou como contato com a imprensa, ontem à tarde.
Ele era a única pessoa a transitar da casa de Carvalho, que fica nos fundos do condomínio Residencial San Marino, até o portão de entrada.
Em uma dessas idas e vindas, foi questionado pela equipe da TV Vanguarda, afiliada da Globo na região, sobre a possibilidade de uma entrevista exclusiva. A resposta não tardou e veio acompanhada de uma cifra: segundo Oliveira, a Record teria feito proposta de R$ 15 mil pela reportagem.
A Record negou qualquer oferta para entrevistar o juiz, afirmando que essa não é a política da empresa. "Não é nossa prática pagar por entrevistas. Este suposto amigo dele usou indevidamente o nome da emissora. Ele não tem autoridade para falar em nome da Record", informou a emissora, que confirmou que Carvalho foi procurado pela produção do programa "Domingo Espetacular".
A afiliada da Globo na região descartou entrar no leilão, dizendo que sua "conduta básica exclui qualquer possibilidade de pagar por entrevista".
Por telefone, Marcelo Jacob, advogado do juiz, afirmou estar ciente da tentativa de negociação. "Já fui informado de que isso aconteceu, mas até o momento não sei de nenhum outro detalhe", declarou, no fim da tarde.
Ele disse acreditar na possibilidade de o árbitro ser condenado a uma pena "mais branda", já que houve confissão à Polícia Federal.
Sua estratégia será desqualificar o crime de formação de quadrilha, imputado pela PF e pelo Ministério Público a Carvalho, ao também árbitro Paulo José Danelon e ao empresário Nagib Fayad.
"Por enquanto, acredito que as provas colhidas ainda não configuram o crime de formação de quadrilha. Para qualificação como quadrilha são necessárias pelo menos quatro pessoas reunidas."
Além de repórteres, o portão do condomínio do juiz, na periferia da cidade, concentrava ontem curiosos. De tempos em tempos, ônibus fretados transportando funcionários da Embraer quebravam o silêncio. Debruçados para fora das janelinhas, eles entoavam o coro "ladrão, ladrão, ladrão".