Multinacionais que chegaram ao país acabaram com o pouco estoque; preços da locação dobraram em seis anos.
Fátima Fernandes
da reportagem local
Folha de São Paulo 15/04/2001
Os escritórios de luxo estão em falta em São Paulo. A chegada de multinacionais ao país, especialmente nos últimos quatro anos, acabou com o pouco estoque de imóveis comerciais de alto padrão que estavem disponíveis no mercado paulista.
Consequência: os preços médios da locação desses imóveis, que já batem em R$60,00 o metro quadrado, o dobro do valor de 95, vão continuar em alta pelo menos até que a oferta e a demanda se equilibrem. A previsão dos especialistas de mercado é que isso não acontecerá antes de 2003. Há quem preveja isso só para 2005.
Os escritórios que interessam aos estrangeiros, classificados como padrão AA ou AAA, correspondem a apenas 7,2% do que está disponível no mercado em São Paulo, segundo a Jones Lang LaSalle, consultoria de origem norte-americana, que cuida da administração e locação de imóveis.
Isso significa que, dos 7,3 milhões de metros quadrados de área útil de imóveis comerciais espalhados pela cidade, apenas 523 mil metros quadrados atendem ás exigências dos estrangeiros.
Desses, apenas 15 mil metros quadrados estão disponíveis atualmente no mercado e, ainda assim, eles estão espalhados por vários edifícios. As empresas preferem instalar todos os departamentos numa mesma área.
O que eles querem é se instalar em edifícios chamados de inteligentes, com ar-condicionado central, com sistema de segurança de última geração, funcionamento interno controlado por computadores e com equipamentos que são capazes de economizar energia nos horários de pico, quando ela é mais cara.
Há uma "fila"de empresas dos mais variados setores aguardando espaço para instalações mais modernas. Elas são principalmente dos setores farmacêutico, financeiro, de informática e de telecomunicação. "O mercado não esperava pelo boom do imóvel comercial de alto padrão. Não esperava que tantas multinacionais viessem para o país ao mesmo tempo", diz Neide Fischer, gerente de pesquisas da Lang LaSalle.
Pelo levantamento da empresa, serão ofertados neste ano mais de 66 mil metros quadrados de área útil de escritórios de alto padrão, a metade do ano passado ( 112 mil metros quadrados).
"Os projetos para esse tipo de imóvel são recentes, não houve tempo para concretizá-los", afirma. É que só mais recentemente os investidores do setor imobiliário sentiram-se mais seguros para investir nos escritórios de alto padrão no Brasil.
Em 2002, diz a gerente, serão mais de 73 mil metros quadrados. Em 2003 e 2004, mais de 150 mil metros quadrados por ano. E, em 2005, mais de 100 mil metros quadrados. "Isso significa que até lá as empresas vão pagar caro para se instalar em edifícios de alto padrão no país".
Como aumento da procura por esse tipo de escritório, os preços dos aluguéis dobraram de 95 até agora. O preço médio da locação, de R$ 29 o metro quadrado, em 95, subiu para R$60 este ano, mas chegou a bater em R$70 neste mês, segundo a :Lang LaSalle. "A tendência é só subir", diz Neide. A previsão dos especialistas é que chegue em R$80 até dezembro.
Aluguel Antecipado
Para enfrentar a escassez de imóveis de alto padrão, a pré-locação se tornou uma prática comum nesse mercado. Antes mesmo de o edifício ficar pronto, a empresa interessada no edifício fecha um contrato de locação.
Mark Alfred Turnbull, gerente sênior de locação da CB Richard Ellis, que presta serviços de consultoria no setor imobiliário, diz que o edifício J.K. Financial Center, que fica na esquina da rua Renato Paes de Barros com avenida Juscelino Kubitschek, inaugurado em junho de 2000, estava totalmente locado seis meses antes.
Ele cita outros exemplos: já há pré-locação em prédios do Panamerica Park, na avenida Guido Caloi, e do Centro Empresarial Água Branca, na avenida Francisco Matarazzo.
A Richard Ellis informa que a sua carteira de clientes demanda escritórios de alto padrão de 150 mil metros quadrados de área útil. Isso equivale a mais ou menos 15 prédios com 10 mil metros quadrados cada um. Só que o número de novos edifícios lançados neste ano não deve passar de 10, nos cálculos da Lang LaSalle.
"Esse tipo de empreendimento está começando a sair do papel agora", diz Luiz Paulo Pompeia, diretor da Embraesp ( Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). Primeiro, eles são oferecidos aos investidores ainda na fase de projeto. Depois dessa etapa, os proprietários dos imóveis iniciam o processo de locação.
A procura das multinacionais pelos imóveis de alto padrão, segundo Pompeia, revela que o Brasil está atraindo os investidores estrangeiros. E isso não se reflete apenas na capital paulista. A região de Alphaville, em Barueri(SP) , e a de Campinas começam a ter empreendimentos de alto padrão para abrigar as empresas.
Apesar de os preços desses imóveis estarem em alta, ocupar um imóvel de alto padrão em São Paulo ainda é mais barato do que em outros países. Em Buenos Aires, o aluguel do metro quadrado sai por R$78; em Frankfurt, por R$83; em Paris, por R$95 e , em Londres, por R$ 144. Os preços são de fevereiro. A cotacão do dólar utilizada foi de R$1,94.